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30 de maio

Dor sem fronteiras

Rede de Mães Vítimas da Violência de Estado na Baixada e FGB participam

de 3º Encontro Internacional de Mães e Familiares Vítimas do terrorismo do Estado, em Salvador.

 

Texto e fotos: Fransérgio Goulart, membro da coordenação ampliada do Fórum Grita Baixada

 

Mães e Familiares Vítimas da Violência do Estado no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Ceará, Amazonas, Bahia, Pará, Pernambuco, além de EUA e Colômbia estiveram reunidas para o III Encontro Internacional das Mães e Familiares Vítimas do Terrorismo do Estado que aconteceu entre os dias 17 e 20 de maio em Salvador, na Bahia. A Baixada Fluminense se fez presente pela Rede de Mães e Familiares Vítimas da Violência do Estado na Baixada Fluminense. Para Luciene Silva e Leonor Leonídio mães da Baixada, esse encontro veio trazer a possibilidade da região ser vista e mostrar ao mundo que existe resistência a partir do protagonismo de mulheres de enfrentamento a violência do Estado. Para as mães da Baixada, o evento foi único pela troca e por saber que não estão sós.

 

O encontro teve como objetivo articular uma luta internacional contra a Violência do Estado, com foco no Brasil, no genocídio da população negra e pobre moradora de favelas e bairros de periferia. Esse genocídio atravessa a história do Brasil desde o processo de colonização em que a escravidão de corpos negros era legalmente garantida até o os dias atuais, através de intervenções de organismos da segurança pública.Para essas mães e familiares, a palavra “Luto” sempre foi verbo desde quando nasceram, pois são sobreviventes do Racismo Institucional. Esse encontro vem denunciando para o mundo que o Estado Terrorista Brasileiro é o país das chacinas e execuções sumárias em bairros periféricos.

 

O 1º dia foi de acolhida e marcado pelo compartilhamento de dores, afetos e estratégias de luta pela parte da manhã. Para Maria Antônia Asprilla, da rede de mães da Colômbia, “a militarização narrada por essas mães foi a mesma que sofremos na Colômbia.” Na parte da tarde, tivemos uma calorosa e emocionante discussão sobre os impactos na saúde mental dessas mães e familiares. “Arrancaram um pedaço do meu útero, essa dor será para sempre. Ás vezes mais fortes, às vezes aparentemente menores com o passar do tempo, mas isso nos adoece, diz Glaucia, das Mães Sem Fronteiras do Chapadão, no RJ.  A história da recente morte de Vera Lúcia, mãe do Movimento Independente Mães de Maio, também foi compartilhada como denúncia desse impacto na saúde mental, fruto de um processo de traumas contínuos.

 

No segundo dia, aconteceu um grande ato público reunindo cerca de 300 pessoas, entre mães e familiares vítimas da violência do Estado, movimentos sociais e organizações como MSTB, Marcha do Empoderamento Crespo de Salvador, Organização Steve Biko, a AATR, Povo de Terreiros, Mulheres Guerreiras de Ocupações do Centro Histórico, Fórum Grita Baixada, Justiça Global, entre outros. O percurso iniciou-se na Praça da Piedade e terminou no Fórum de Salvador, onde as Mães e Familiares ecoaram gritos como: “Povo negro unido, Povo negro forte, Que não tema a luta, Que não teme a morte! e Chega de Chacina! Polícia Assassina!”

 

No terceiro dia, o encontro seguiu com as discussões e levantamentos de propostas sobre o Sistema Sócio Educativo e o Encarceramento em Massa, o Direito à Memória e Justiça, a Reparação Psíquica e Social e por último a deliberação do próximo encontro em 2019, acontecer no estado do Ceará. Também tivemos a Mesa de articulação internacional com Charpearl, mãe de Chicago/EUA, Antônia, mãe de Cali, Colômbia, Marinete, mãe da vereadora carioca assassinada Marielle Franco, Dona Maria do Mov.Independente Mães de Maio e Vilma Reis Ouvidora Externa da Defensoria Pública da Bahia.

 

Entre as principais deliberações do encontro tivemos: a criação da Rede internacional de Mães e familiares Vítimas da Violência do Estado, a Criação da Mães de Maio do Nordeste, a proposta de cotas para a população carcerária quando da sua saída do sistema prisional, incidência para que a semana de luta de Mães e Familiares Vítimas da Violência do Estado seja implementada por vários estados brasileiros, culminando com uma semana nacional, a criação de um Fundo Nacional de Reparação a Vítimas da Violência do Estado Brasileiro e que o próximo encontro seja também um espaço de formação com aprofundamento de temas como racismo, diversidade religiosa e controle de armas e militarização das vidas e da política.

 

 

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