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Os rappers K3, MC Magro, JLZ, Walher Fifi e Naxa. Fortalecendo e evento 

30 de maio 

Esporte e hip hop para revitalizar a periferia

Realizado pelo núcleo Lagoinha IntegrAção, evento, apoiado pelo Fórum Grita Baixada,

reafirma a necessidade de se valorizar a produção cultural do bairro e de outros territórios periféricos da BXD.

 

O Fórum Grita Baixada, em apoio à iniciativa do coletivo Lagoinha Integração, cujas parcerias institucionais incluem a ONG Viva Rio, CIEP 188 Mariano Flor Cavalcante e União dos Bombeiros Civis e Amigos do Estado do Rio de Janeiro (UBCAERJ) e como apoio local Jotavee Fotografia, equipes de luta Nova União, Vanúsia Psicologia e Dhelma´s Hortifruti, esteve presente no primeiro evento “Lutas e Rimas”, em 19/05, que reuniu importantes representantes das artes marciais locais, além da apresentação da rappers que, junto com as coreografias das equipes de luta, também forneceram um show à parte, improvisando nas letras. Não apenas o rap animou as mais de 50 pessoas presentes, mas recitais de poesia também deram o tom à festa.

 

Mesmo com o tempo frio e chuvoso em uma manhã de sábado, pode-se dizer que o evento foi um sucesso, embora ainda seja um desafio organizar atividades desse tipo em bairros distantes do centro na Baixada. É essa a impressão de Taiza Vasconcelos, uma das componentes da Lagoinha IntegrAção: “Nós sabemos de todas as dificuldades que nos cercam. As pessoas costumam reclamar muito de falta de opções culturais em lugares como Lagoinha, mas quando acontecem, eles não são muito valorizados. Precisamos ter mais apoio da população”, diz Taiza.

 

Quem compartilha do mesmo sentimento é Taís Côgo, uma das fundadoras do Lagoinha Integração. “A maior dificuldade é mostrar aos moradores que eles precisam saber que fazem parte disso aqui. Mas há ainda muito preconceito, pois muitos pensam que rap é coisa de marginal, mas é, acima de tudo, uma cultura de resistência. Assim como pensam que todo defensor de Direitos Humanos defende bandidos”, explica Tais, que ainda relata ter se deparado com algumas desaprovações na comunidade.

 

Quem também esteve por trás da mobilização e articulação do “Lutas e Rimas” foi o pedagogo  Michel Indiano. Em seu dia de rapper bamba nas improvisações, ele afirma que festas desse tipo não podem cair no esquecimento e exalta a cultura de rua: “Eventos como esse sempre são um pontapé inicial para algo maior ali na frente. É um orgulho participar desse projeto porque nós nadamos contra a corrente o tempo todo. As pessoas apresentam um certo receio no início, mas com o tempo vão se acostumando. É preciso ocupar esses espaços um tanto ociosos. A molecada precisa saber dar vida nos lugares onde moram”, afirma Indiano.

 

Dentre os representantes das equipes esportivas, estava o Grupo de Capoeira Berimba, de Mesquita, sob as ordens de Mestre Soró. Embora seja cadeirante, vítima de uma bala que se alojou em sua coluna vertebral, deixando-o paraplégico, o professor não encontra dificuldades em ministrar suas aulas. “Gosto muito de conversar com meus alunos, tenho a total atenção deles. Sempre ensino que capoeira é um dom da defesa e nunca deve ser usado para o ataque. Nós enquanto capoeiristas, precisamos ser uma família sempre, dar carinho aos nossos “filhos” aqui na roda e em casa”, sorri Mestre Soró que, além de ser federado tanto estadual e nacionalmente, é capelão e tem 8 filhos.

 

Demonstrando bastante vigor em suas performances, a equipe de luta Metanoia exibiu para o público exercícios de alto impacto nas modalidades box, muay thai e kickboxing em um “ring” improvisado com tatames. O professor Robledo Tavares comanda 300 alunos em algumas academias pela Baixada e contribui para o discurso de que artes marciais são fontes de disciplina e não de violência: “Nós fazemos diversas apresentações públicas e sempre explico que o que ensinamos é defesa pessoal e não covardia com o próximo. Tenho tanta preocupação com isso que, para prevenir acidentes entre meus alunos nas aulas, ensino até a prática de primeiros socorros para que fique na consciência deles de que as lutas foram feitas para afiar a mente”, explica Robledo que se apressa em informar que um de seus alunos vai participar de um campeonato nacional no Paraná e, caso vença, disputará cinturão de ouro em um mundial da categoria em Cancún, México.

 

Após o recital de poesias e a apresentação das equipes de lutas, foi a vez das batalhas de rimas entre os rappers JLZ e K3, vindos de Nova Iguaçu e Campo Grande, respectivamente. A modalidade escolhida foi a chamada “batalha do conhecimento” ou Slam. Diferentemente das batalhas tradicionais, onde dois MC´s (Mestre de Cerimônias) promovem uma disputa com tema livre através do improviso das rimas, cujo vencedor é escolhido pelo público, nessa Batalha do Conhecimento há uma reflexão conjunta entre os participantes ao abordarem temas complexos e cotidianos como direitos humanos, violência, racismo, educação e machismo, sem esquecer, como suporte ao show, a base pré-gravada de música (também chamada de beat no movimento hip hop) que ajudou na composição das rimas. A mudança no estilo teria sido proposta pelo MC Marechal.

 

O vencedor simbólico da batalha de rimas foi Wellinson Luís, morador de Lagoinha, 20 anos, que se aventurou pela primeira vez como MC em um evento como esse. Como prêmio, o jovem ganhou o direito de conhecer, junto com um acompanhante, o Centro de Treinamento dos “Pérolas Negras” (um clube de futebol criado pelo Viva Rio, para gerar impacto social, com refugiados do Haiti) e também será “personagem” de uma matéria para o site do Fórum Grita Baixada.

 

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Mestre Soró e parte de sua "grande família" 

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Mesmo com o CIEP 188 quase às escuras em pleno dia, atletas continuaram os exercicios físicos

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Início das batalhas entre os MC´s