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31 de maio

“Nossos Mortos Têm Voz”: a Baixada pede socorro

Ato em memória das vítimas de violência na Baixada Fluminense, em Queimados, reúne cerca de 40 pessoas

 

Texto e fotos: Lorene Maia, articuladora de territórios do Fórum Grita Baixada

 

Dia 26 de maio, sábado, 10 horas e uma manhã de sol. Na Praça Nossa Senhora da Conceição em Queimados, em frente a Igreja, um grupo de pessoas começa a se reunir com cartazes, panfletos, blusas e poesia. Entre as mais de 40 pessoas, cerca de dez jovens líderes estudantis, lideranças religiosas, professores, moradores locais, transeuntes, mães e parentes de vítimas da violência do estado, todos defensores dos direitos humanos.

 

A concentração na praça teve um motivo nobre, mas de muita dor: a violência que assola a Baixada e, em especial, a cidade de Queimados, considerada pelo ISP, no ano passado, uma das mais violentas do Brasil (leia mais abaixo). Luta e luto se misturaram em uma intervenção que uniu arte e protesto para chamar atenção da sociedade e gritar por todas as vítimas do Estado.

 

A ideia da realização do ato partiu do Núcleo de Direitos Humanos do Fórum Grita Baixada em Queimados. Em virtude da Semana Estadual das Pessoas Vítimas da Violência que ocorreu no mês de maio, entre os dias 12 e 19, o grupo entendeu que para além das discussões mensais que ocorrem nas reuniões sobre a violência e os direitos humanos, era preciso extrapolar as paredes das salas e atingir parte da população.

 

Com a ajuda do Grêmio Estudantil da Escola Roquete Pinto, o ato foi idealizado. Cartazes com palavras de ordem e com os nomes das vítimas se uniram aos gritos de “Nossos Mortos Têm Voz” que ecoavam pela praça. Palavras e discursos em prol dos direitos humanos e contra as violências do estado deram o tom para que mais pessoas se juntassem a grande roda formada.

 

Cada uma das pessoas teve a oportunidade de se manifestar. O centro da roda foi o palco para que a articuladora do FGB abrisse o evento falando sobre os números alarmantes da violência na Baixada e em Queimados. João Goulart, líder do núcleo e também das pastorais sociais, convidou a todos para se unirem em torno da luta por direitos. Eurídice, líder religiosa, deu seu depoimento sobre a violência na cidade. Sônia Martins, coordenadora do projeto de litigância e membro da Comissão Pastoral da Terra, fez um discurso forte sobre as mazelas da população, o extermínio da juventude pobre e negra e a violência do estado.

 

Os jovens tiveram voz por meio de Suellen, líder do grêmio Roquete Pinto e não se calaram diante de um estado que sempre está pronto para arrancar suas vidas. Mães e Familiares da Rede de Mães e Familiares da Baixada representaram a luta por dias melhores e por justiça. Leonor, Nívia, Marilza e Silvania juntaram-se ao movimento em memória de seus entes. O jovem rapper Evandro “Lucky” recitou poesia e cantou versos de uma música (ambas autorais) sobre a violência, o racismo e sobre direitos.

O ato terminou às 12 horas com o lema “Nossos Mortos Têm Voz” ecoando, seguido pelos nomes, das inúmeras vítimas da violência de estado na Baixada e na cidade de Queimados, gritados e lembrados por todos os presentes.

 

Números assustam

 

A Baixada Fluminense voltou a ocupar lugar de destaque no vergonhoso pódio da violência. Segundo dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, em levantamento realizado no mês de novembro de 2017 dos 423 homicídios dolosos (com intenção) registrados em todo o estado no mês de setembro, 160, ou seja, 37,8% ocorreram na região. Só a cidade de Duque de Caxias, terceiro maior colégio eleitoral do estado, registrou 40 casos, tornando-se a mais violenta do Rio de Janeiro. Os outros municípios que colaboraram para que a Baixada ganhasse destaque no mapa da violência foram Seropédica, Itaguaí, Paracambi, Queimados e Japeri que, juntas registraram os outros 44 casos. Já na área que abrange as cidades de Nova Iguaçu, Nilópolis e Mesquita foram 31 mortes.Os outros casos aconteceram nas AISPS 39 (Belford Roxo), com 21 mortos; 21 (São João de Meriti), 14 mortos; e 34 (Magé), com 11.

 

 

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