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09 de março de 2022 

ARTIGO

O cenário da Baixada sob a perspectiva da educação

por Rayssa Kassiane, professora de Geografia da rede municipal de ensino de Magé e do pré-vestibular comunitário Paulo Freire em Lote XV, Belford Roxo   

 

Nesse retorno 100% presencial das aulas, mesmo ainda estando em período pandêmico, enquanto professora, pude observar o quanto esses dois anos fora da escola em período normal trouxeram para os alunos, principalmente o aluno da escola pública. Impactos na alfabetização do aluno, na estrutura do “ensino remoto’’ ofertado pelas prefeituras e no aspecto sócio emocional desse aluno.

 

O reencontro dos alunos com os professores e o ambiente escolar, incluindo voltar a copiar o dever no quadro, por exemplo, ter a responsabilidade de entregar tarefas, completar a atividade no tempo limite de aula de cada professor, isso tudo é novo para o aluno que, em 2019, estava matriculado no 3º ano do ensino fundamental e nos anos de 2020 e 2021 se deparou com a pandemia.

 

Em uma aplicação de atividade diagnóstica de interpretação de texto, podemos identificar que muitos alunos têm dificuldade de ler e escrever. Ao copiar do quadro, copiam as palavras pela metade, com erros de pontuação. São alunos que escrevem mecanicamente. O professor não pode avançar com o conteúdo. Precisa retroceder e começar tudo de novo.

 

A estrutura de ensino remoto ofertada pela maioria das prefeituras se consistia apenas na retirada e entrega das apostilas nas unidades escolares, nada mais. Além disso, aulas 100% online ou as que eram ministradas pelo sistema híbrido, passavam pela dificuldade de serem acessadas pelos alunos. Me pergunto que tipo de qualidade na educação ofertamos nesses dois últimos anos? Principalmente aos alunos inclusos, onde o nível de dificuldade é maior? Como resultado, nós professores tivemos de dobrar a nossa carga de trabalho, duplicamos os nossos esforços. Algumas escolas chegaram a criar grupos de whatsapp para auxiliar os alunos em casa, mas mesmo assim não foi o suficiente.

 

O aspecto emocional das alunas e alunos

 

No retorno das aulas, que chamamos de semana de integração e/ou adaptação, pude me deparar com alunas do 6º ano de escolaridade, na faixa etária entre 10 a 11 anos, com graves problemas emocionais na realização de uma dinâmica socioemocional, chamada a “árvore das emoções’’, onde cada um deles escolhe um emoji e escreve o porquê de tê-lo  escolhido.

 

Me deparei com alunas que estão desenvolvendo crises de ansiedade. Inclusive uma delas teve uma crise durante a minha aula. São alunas extremante tímidas e isoladas porque estão tristes por causa de problemas familiares. Meninas que cuidam de suas mães doentes, exercem responsabilidades que não eram pra ser suas. Nesse ano de volta às aulas e durante a pandemia, o papel do professor tem sido muito além de ser aquela pessoa que chega e só transmite o conteúdo. Nosso papel tem sido cada vez mais importante no sentido de cuidar, acolher, ajudar, instruir essas crianças numa fase da vida delas que não deveria ser assim.

 

Em suma, espero encarecidamente que possamos ajudar na evolução desse aluno. Claro que não poderemos recuperar dois anos de atraso em apenas um, mas vamos juntos tentar reconstruir toda essa trajetória perdida.