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Grupos de trabalho para a formulação de propostas e encaminhamentos foram montados logo após o seminário 

21 de agosto de 2018

Violência nas escolas: onde, por quê e como prevenir

Seminário sobre as várias problemáticas acerca do tema aconteceu na quarta-feira (15/08) dia do(a) psicólogo(a) na unidade do Uniabeu de Belford Roxo. Fórum Grita Baixada foi um dos organizadores. 

 

Discutir políticas públicas sobre Educação está longe de ser um consenso. Professores e pesquisadores da área são unânimes em fornecer críticas sobre algumas ações em relação a processos de gestão do poder Executivo e Legislativo para qualificar o sistema de ensino. Mas e quando assuntos mais espinhosos, como a violência cotidiana em áreas periféricas e suas implicações na formação educacional de crianças e adolescentes nesses territórios, fazem parte de um leque de problemas ainda não solucionáveis?

 

Fruto da parceria entre Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu, Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE), de Nova Iguaçu e Belford Roxo, Conselho Regional de Psicologia – Subsede Baixada Fluminense, Pastoral da Educação da Diocese de Nova Iguaçu, Fórum Grita Baixada e Uniabeu de Belford Roxo, o Seminário “Violência nas escolas: enfrentamento em rede”, teve como um dos objetivos, transparecer os desafios que permeiam tais políticas públicas educacionais. O evento contou com a participação dos palestrantes Edimilson Lima, psicólogo, psicoterapeuta e coordenador do curso de Psicologia da Uniabeu, a socióloga Júlia Ventura, gestora da Associação Cidade Escola Aprendiz e a professora e pedagoga Leci Carvalho.

 

Começando o ciclo de palestras, o coordenador de Psicologia da UNIABEU, Edimilson Lima, se mostrou preocupado em como contextualizar os encaminhamentos que identificam tais violências nas instituições escolares, reconhecendo que pode não ser uma tarefa fácil apenas se concentrar em um determinado planejamento devido às suas possibilidades. “Há uma violência tanto interna quanto externa que atinge alunos, professores e funcionários das escolas e das faculdades. O ponto de partida é difícil para a instituição escola, pois não sabemos colocar isso em sala de aula, como envolver a universidade nesse processo. Como professor de Psicologia ainda não consigo enxergar qual a função social mais adequada que a área teria na formulação de propostas para se combater a violência em sala de aula”, argumenta Lima. E emendou. “É uma estratégia que precisa ser compreendida, pois envolve componentes acadêmicos e um compromisso social.”

 

Políticas públicas precisam dialogar entre si para a Educação ser mais qualificada

 

Para a socióloga Júlia Ventura, gestora da Associação Cidade Escola Aprendiz, as implicações sobre a violência em sala de aula são mais observáveis. Há desde o problema da falta de motivação dos alunos, proporcionada pela vivência em territórios ou ambientes violentos até a ausência de  projetos pedagógicos específicos para áreas de conflito. Ela menciona que as operações policiais em favelas e outras periferias, pela letalidade que representa para as populações desses territórios, desencadeiam uma sensação de insegurança que aterroriza os alunos. Segundo a pesquisadora, estudos comprovam que em 1 ano letivo, se perdem 2 meses de aula por causa de interrupções em função de tiroteios em áreas de confrontos. Para se pensar as políticas educacionais é preciso que haja uma reformulação da segurança pública, uma conversa permanente. E não apenas isso.

 

“É preciso se criar um grupo de trabalho intersetorial, capaz de ações integradas nas esferas de poder das prefeituras e no governo do Estado e espaços e ambientes institucionalizados onde haja uma gestão compartilhada dessas políticas sociais. Sem metas, objetivos, foco, isso não será possível. É urgente um trabalho de assessoria nessas esferas de poder, para que sejam construídas as deliberações e estabelecer o que precisa ser alcançado. Quando há uma gestão integrada, você cria  velocidade de atendimento à população, capacidade de monitorar e avaliar melhor os resultados”, explica Júlia, em rápida conversa com o Fórum Grita Baixada.

 

A educadora Leci Carvalho, a terceira e última palestrante a fazer uso da palavra, afirmou que um dos principais problemas do sistema educacional público é que o mesmo nunca foi criado para atender às necessidades dos alunos advindos das regiões periféricas. “Os problemas da periferia também são em rede. Não afetam apenas jovens e adolescentes, mas toda a estrutura familiar. A escola não é capaz de calcular esses efeitos ainda. Integrar a família à escola não é fazer com que os pais pintem os muros das escolas, recolham o lixo ao redor ou coisas do tipo. Isso é tarefa do poder público.”, afirmou Leci, que também criticou o grande número de professores que defendem uma relação mais radical de controle e disciplina aos alunos considerados “insubordinados”. “É preciso uma mudança no método. Os docentes desconhecem a cultura da periferia e tudo pode ser interpretado como uma afronta aoseu poder de dar aula”, completou Leci.

 

Logo após, formaram-se grupos de trabalho para que encaminhamentos fossem produzidos e propostas de reformas na Educação fossem formulados coletivamente.     

 

O evento também fez parte das comemorações do Dia da (o) Psicóloga(o). A coordenadora da Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada, Mônica Sampaio, ressaltou que o seminário integra também a agenda de eventos preparatórios para o 10º Congresso Regional de Psicologia (COREP), que acontecerá no primeiro semestre de 2019 para mobilizar as (os) psicólogas (os) do estado do Rio para debater propostas de atuação para o CRP-RJ para o triênio 2019-2022.

 

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Mônica Sampaio (em primeiro plano), coordenadora da comissão gestora do Conselho Regional de Psicologia (Baixada Fluminense): valorosa ajuda para a formatação do seminário