07 de novembro de 2017

 

Violência e invisibilidades na Baixada: pra onde estamos indo?

por Diego Francisco, jornalista, ativista social. Mestrando em Relações Étnico-Raciais no Cefet-RJ.

 

Em outubro, nos dias 18 e 21,  participei de duas atividades do Fórum Grita Baixada: O 1º BFCOM: Seminário de Comunicação, Cultura e Ativismos, em Nova Iguaçu e o 1º Seminário de Segurança com Cidadania, em Queimados. A oportunidade de ouvir, na mesma semana, as inquietações de moradores/as, ativistas e especialistas sobre o tema da Segurança Pública acendeu a luz vermelha no que tange ao que temos pensado como estratégias para solucionar ou, ao menos, reduzir os impactos da problemática da violência no Rio de Janeiro, sobretudo nas regiões faveladas e periféricas em relação à Capital, como é o caso dos municípios da baixada Fluminense.

 

Se nos últimos anos, lidar com o aumento dos índices de violência tem sido comum para a população do Estado, na Baixada Fluminense o aumento dos índices causa preocupação e revela o descaso na oferta de políticas públicas eficazes e mais, o processo de invisibilização ocorre também na cobertura da imprensa que não acompanha a escalada dos números. Diante destes fatos, é importante que se faça uma incidência que opere nos diferentes sentidos e que também influencie o debate público sobre segurança. Como morador da cidade do Rio de Janeiro, de uma favela da Zona Norte  e sendo, portanto, agente externo à realidade da Baixada Fluminense, proponho alguns pontos de discussão que podem, e devem ser ampliados por todas e todos.

 

O primeiro é a impossibilidade de entrarmos no debate atual sobre Segurança Pública sem levar em consideração o Racismo, que estrutura todas as relações sociais em nosso país e tem na cidade do Rio de Janeiro suas expressões demarcadas nos estigmas relegados aos espaços periféricos e favelados. A cosntatação é aterradora: é o povo preto e pobre que vem sendo assassinado, privado de oportunidades, e que vive sob a imposição da sobrevivência como único modo de vida.

 

Também é preciso pensar que forma de diálogo os moradores destes territórios querem firmar com o Estado e as ONGs. É preciso ser criterioso. Não dá mais para vermos instituições que sentam na mesma mesa com estes/estas moradores/as e se aliam ao Estado na formulação de uma política de extermínio do povo preto e pobre que mora nas favelas e na Baixada Fluminense.

 

Não dá pra desconsiderar que estamos sendo ASSASSINADOS. Não são acidentes, não é despreparo. A Polícia Militar sabe o que está fazendo e faz muito bem. Jovens negros estão sendo mortos a números alarmantes. Temos um genocídio, que é histórico em nosso país. E por isso é preciso mobilizar a partir das bases, mas para que se conheça que estrutura de Estado é essa que estamos lidando. Para que se reconheça os impactos do Racismo na nossa vida cotidiana. Quem está no trem? Apertado no metrô? Sofrendo com a redução da oferta de ônibus? Sem as UPAS? Sem as Clínicas da Família? Quem sofre com as remoções? Quem é confundido com traficante? Quem sofre as revistas abusivas? Quem deixa os filhos para atravessar a cidade e cuidar dos filhos de outros? Quem tem as jornadas excessivas de trabalho somadas ao gasto de tempo no transporte público? Quem está privado da Educação? Qual é a Escola sucateada?

 

Não se enganem, a luta por Políticas Públicas é uma luta por afirmação, não apenas dos territórios periféricos, mas do direito de sermos percebidos como seres humanos. É urgente reivindicar a nossa humanidade. Reivindicar que o Estado cumpra o seu papel, custe o que custar.

 

A perspectiva é chegar à compreensão de que no debate sobre Segurança Pública, não é de polícia que estamos falando. A oposição polícia-tráfico é falsa, uma cortina de fumaça que muitas vezes nos divide. O tráfico de drogas está no Estado, para o Estado e cumpre o seu papel de delimitar quem morre e quem não morre e por isso, precisamos encarar o debate da Guerra às Drogas e compreender os novos jeitos de associativismo. Os coletivos jovens, a militância na Internet e outros fóruns de decisão e discussão têm se tornado importantes espaços de debate e busca de soluções.  E pra continuarmos refletindo, a quem interessa uma Política de Segurança Pública? Pois até agora o que vimos é a defesa de um grupo específico de cidadãos enquanto os nossos, nas favelas e na Baixada, sofrem com a única política que nos resta: o extermínio, e de muitas formas.