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27 de maio de 2020

Coronavírus: 5 perguntas sobre a doença que assusta o mundo

A pedido do Fórum Grita Baixada, pesquisador em saúde pública responde perguntas enviadas por internautas sobre a pandemia.  

 

 

No dia 20 de maio, o Fórum Grita Baixada realizou, em sua página do Facebook, a live “Coronavírus na Baixada: uma análise de conjuntura da saúde pública” com Victor Grabois, presidente da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (SOBRASP) e coordenador executivo do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz). A repercussão da entrevista foi bem sucedida, a tal ponto de várias perguntas ficarem sem a devida resposta. Sendo assim, consideramos importante essas dúvidas serem sanadas e selecionamos as mais urgentes, que foram prontamente enviadas para o pesquisador. O resultado você lê abaixo.

 

Quem quiser ver a live na íntegra em nosso canal do Youtube, basta clicar aqui

 

Às vezes as pessoas, durante a pandemia, desenvolvem síndrome do pânico, ficam muito ansiosas e sentem falta de ar. Como diferenciar a falta de ar pela COVID-19 da "sensação de falta de ar" provocada pela crise de ansiedade? Como ajudar essas pessoas? Elas devem ir ao hospital?

 

Esta situação pode ocorrer, mas de uma maneira geral, na Síndrome Respiratória Aguda Grave (pela Covid19 ou não), além da falta de ar; a respiração fica mais rápida, e existe a febre e a tosse. Além disso, idosos com ou sem outras doenças crônicas são pacientes de risco e devemos estar mais alertas quando esses sintomas de falta de ar aparecem. Devemos criar condições para que as pessoas possam ter contato via telefônica ou via internet com os serviços de saúde, e, além disso, a presença de agentes comunitários de saúde é importante apoiar as famílias. Muitas publicações têm apontado que o uso dos oxímetros nas unidades básicas de saúde é fundamental para medir se a falta de ar está produzindo uma hipoxemia (uma queda na saturação do oxigênio abaixo de 93%), que é um indicador que a pessoa está fazendo um quadro mais grave. Soubemos que o Consórcio de Governadores do Nordeste está comprando oxímetros a baixo custo para que esteja acessível nas moradias e não apenas nos serviços de saúde. Por fim, crise de ansiedade é um diagnóstico a ser pensado, mas nunca como primeira opção. Se a falta de ar está presente, a pessoa deve procurar um serviço de saúde sim.

 

As unidades de saúde não estão recebendo os casos em estágio inicial. Isso não faz com que aumente a letalidade, uma vez que, só atendem pacientes que já estão bastante debilitados?

 

Na verdade, para que a ideia de não ir aos serviços de saúde em casos leves de Síndrome Gripal faça sentido, todas as pessoas devem ter acesso telefônico ou internet a seu médico, e/ou ao médico e enfermeiro da unidade básica de saúde. Muitas pessoas ficam sem acesso a algum serviço de saúde e vão agravando em casa, diminuindo suas chances de sobreviver à Covid19. Os agentes comunitários e os líderes dos bairros podem desempenhar um papel de apoiar o monitoramento dessa evolução clínica, além das unidades básicas de saúde.

 

Vimos com esperança a possibilidade de uma vacina que já vem sendo testada em voluntários nos EUA. Caso seja esse um caso de vacina realmente eficaz, qual o período estimado para que ela seja amplamente difundida contra a pandemia?

 

O prazo que tem sido anunciado é de 12 a 18 meses, mas o volume de recursos que está destinado às pesquisas para obtenção de uma vacina é muito grande. A Fiocruz divulgou no dia 26 de maio na comemoração de seus 120 anos que está se preparando para a produção da vacina aqui no Brasil, caso ela seja descoberta.

 

Como impedir que pacientes infectados com Covid 19 adquiram outras infecções hospitalares. Como infecções adquiridas por estar muito tempo nos respiradores?

 

É possível impedir que os pacientes hospitalizados por outras causas adquiram a Covid19, e, também, impedir que pacientes internados por outros motivos adquiram a Covid19 no ambiente hospitalar. Para isso é muito importante que os profissionais de saúde higienizem as mãos nos cinco momentos recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Também em relação a Covid19, os profissionais de saúde devem dispor dos equipamentos de proteção individual (EPIs). Os respiradores devem ter seus circuitos adequadamente processados e devem dispor de filtros de alta eficiência (filtros HEPA).

 

Faltam estratégias sanitárias e investimentos nessas ações da atenção básica. Por falta de uma coordenação e planejamento de ações voltadas para a pandemia no país e da compreensão das possibilidades da abrangência da ação dos profissionais da atenção básica, considera-se exagerada essa preocupação exclusiva com o atendimento da alta complexidade e compra de respiradores. As equipes de atenção básica não deveriam ter sido ampliadas, treinadas para essa ação emergencial? Houve tempo para isso?

 

Infelizmente os recursos para Saúde foram sendo reduzidos globalmente, pela redução dos aportes federais nos últimos governos. Um ponto marcante é a Emenda Constitucional 95 (EC95) que impôs um teto de gastos para o governo federal, incluindo a Saúde e a Educação. Concordo plenamente, as equipes de saúde deveriam ter sido mantidas e ampliada, e não reduzidas como foram em 2019, em todo o Brasil. Tivemos pelo menos um mês de antecedência em relação aos países europeus, e nada foi feito nesse sentido. Mesmo assim, o SUS está mostrando seu papel de vanguarda e de atenção à grande parte da população brasileira.